segunda-feira, dezembro 22, 2003

Voluntariedade?SimNãoMas......

Hoje estava a passar os olhos por aquelas crónicas do Público, e fixei esta frase:" a Interrupção Voluntária da Gravidez....." .
Temos de novo discussão sobre o "Aborto". Como de costume, uns a favor, outros contra ou não fosse uma discussão! E cada um dos lados esgrime suas ideias, apresenta as suas pesquisas, os seus inquéritos de opinião.
Uns brandem a Bíblia e publicações afins, outros as legislações de outros países. Enfim, uma discussão eterna, cíclica e sem resolução definitiva aparente.
Mas a frase que mencionei acima, " interrupção VOLUNTÁRIA da gravidez " deveria ser isso mesmo: VOLUNTÁRIA !
Um ateu, reclama que a interrupção VOLUNTÁRIA deve ser proibida porque ninguém tem direito de matar fetos que são gente! Outro ateu reclama que sim, que pode mas só até "xis" semanas! Um religioso fiéricamente vaticina que a interrupção VOLUNTÁRIA da gravidez é aceite desde que se cumpram certos pressupostos ( fazendo-me lembrar dos tempos da Bulas Papais, em versão Soft !) enquanto que outro religioso afincadamente reclama a impossibilidade em qualquer caso de haver interrupção VOLUNTÁRIA da gravidez. E depois temos todo e mais algum tipo de sub-tipo de a-favores e contras !
Tudo muito interessante, com um pequeno aponte meu, que de repente se me afixou frente aos meus olhos, assim como que um anúncio de néon!: todos os intervenientes na discussão falam e escrevem sobre a interrupção VOLUNTÁRIA da gravidez !!!!!!! Falam e escrevem mas parece-me que o fazem sem pensar e/ou reparar no que dizem e/ou escrevem : então se falamos de um assunto, acção, que supostamente é "VOLUNTÁRIA" então é ou deveria ser "VOLUNTÁRIA" !!E se é voluntária, então é para ser decidida a favor ou contra, "VOLUNTÁRIAMENTE' por quem de direito, neste caso a grávida!
Agora, se é moralmente aceitável ou não, essa escolha faz quem quiser, desde que não interfira fisicamente no acto!
Não me parece justo, e o que é justo parece-me bastante mais importante do que o que é moralmente aceitável, que se possa interferir, penalizar e criminalizar !! uma grávida que abortou ou pensa abortar. Ninguém senão ela, sabe os motivos porque o deseja fazer. E não diz respeito a mais ninguém este assunto que não á grávida!
Como de costume, a hipocrisia acompanha esta discussão. Vemos namorados, maridos e pais, que já autorizaram, ajudaram e mesmo obrigaram a que se fizesse um aborto, agora e no que diz respeito á sua imagem perante a sociedade, a contestarem ferozmente a possibilidade de haver interrupção VOLUNTÁRIA de gravidez ! No privado agem de uma forma e em sociedade de outra! Temos também, e aqui um assunto bastante Tabú, religiosos ou religiosas que provocaram, aconselharam e mesmo praticaram a interrupção VOLUNTÁRIA de gravidez! ao mesmo tempo que hipocritamente nos seus púlpitos, por vezes, salas de aulas, catequeses, sessões de aconselhamento, etc, tão frenéticamente combatem e condenam a um qualquer inferno quem se envolver em interrupções VOLUNTÁRIAS de gravidez.
A interrupção VOLUNTÁRIA de gravidez, mais conhecida por "aborto" é uma prática com milénios de história. Com épocas e civilizações distintas e variadas no que respeita á sua utilização ou interdição.
Nos tempos mais a nós chegados, todos sabemos ou ouvimos falar da sua efectuação. Entre amigos, ou familiares, ou desconhecidos, todos já ouvimos falar de quem fez ou vai fazer! Todos temos uma opinião! Eu até bem á pouco tempo tinha uma norma de conduta sobre este assunto, agora ultimamente a minha posição é esta que aqui escrevo. Cada um no seu galho. Ninguém está de acordo ainda, sobre quando é que um feto é ou não é um ser humano! Há divergências, logo não há certezas! Como sub-sistema desta discussão, há as variantes de: "até quando se permitir", e ainda o sub-grupo de: "porque motivos permitir".
A acompanhar toda esta discussão, o conhecimento de clínicas em alguns países. E temos mesmo ao nosso lado um país que anuncia nos nossos jornais essas mesmas clínicas!
Para não aprofundar mais nem sequer tentar entrar em tomadas de posição, o que eu acho que devia ser proibido é que a interrupção VOLUNTÁRIA de gravidez seja praticada por pessoas sem conhecimentos científicos, que só seja possível a sua prática em locais credenciados para cuidados de saúde.
Quanto ás moralidades, estas deverão pertencer a cada um de nós e nunca impostas por terceiros! Entre a hipocrisia moral e a moralidade hipocrita, que venha alguem que escolha!!
E por hoje, voluntáriamente me despeço. Ciao